Eduardo Beznos

Formado pela Universidade Mackenzie, realiza Psicoterapia e Acompanhamento Terapêutico (AT) para Adolescentes e Adultos em Abordagem Existencial Fenomenológica.


Alameda Barros, 650 conjunto 20 - Higienópolis - São Paulo - próximo ao Metrô Marechal Deodoro. (11) 3804-9461


eduardo@psicologiahigienopolis.com

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Espaço Terapêutico como Encontro

O espaço social é ambivalente em relação aos indivíduos. Se, por um lado, para existirmos, precisamos ser recepcionados por toda tradição que já se encontra presente no mundo antes de nosso nascimento - e sem isto nossa existência não seria possível - por outro, tendemos, diante das tradições, a perder de vista nosso próprio Rosto. Isto porque somos chamados a assumir e a corresponder a expectativas que em grande parte nos são alheias, não nos pertencem.
Desta forma dá-se esta ambivalência. O bebê humano quando nasce é de uma fragilidade tal, que para se desenvolver precisa ser amparado por gestos amorosos de cuidado para além de suas necessidades biológicas como a de comida, ele precisa aprender a fazer parte do mundo humano, aprendendo progressivamente o significado das coisas humanas, sendo, em outras palavras, educado.
A educação, no entanto, tende a exigir que a criança exista de acordo com o que as convenções sociais – historicamente determinadas – entendem por correto. Ora, o humano está sempre além daquilo que se convenciona, em determinado período histórico, como o correto. Em sua intimidade, vive anseios, desejos e perguntas que sempre ultrapassam aquilo que está estipulado como o correto e o permitido. É justamente neste espaço íntimo que reside aquilo que singulariza uma pessoa, que a torna única frente às demais outras.
Diante do sentimento de que não há espaço para a própria intimidade no mundo, a maior parte das pessoas vive a carência de um verdadeiro encontro. Anseia poder estar presente no mundo frente às outras pessoas a partir de quem verdadeiramente é, mas se sente  intimamente errada a respeito de si mesma, como se devesse para ser amada ser outra pessoa e não quem realmente é. Assim, dia e noite, emprega grandes esforços para esconder seu Rosto em máscaras socialmente consagradas (e historicamente determinadas) e briga (consigo mesma e com os outros) para especializar-se em métodos de sedução. Então, aprende a trazer aqueles com os quais anseia um encontro, não para perto de si mesma, mas para próximo da distância gélida de sua máscara. Gélida, fria é esta máscara, porque blinda atrás de si um rosto humano solitário que anseia e aguarda por encontrar e ser encontrado.
Ao sentirem-se fracassadas em relação ao esforço em seduzir por meio de uma máscara, muitas pessoas freqüentemente apenas trocam a antiga máscara por uma “nova”, esperando, então, da recente aquisição, a mesma falsa promessa de felicidade que tinham em relação à antiga.
A nossa sociedade atual – de consumo – é mesmo especializada em oferecer através de máscaras-produto, semelhantes promessas de felicidade.
Uma pessoa pode encontrar uma via de acesso a si mesma, a quem verdadeiramente é, quando percebe que em sua trajetória de vida já trocou muitas vezes de máscara esperando o mesmo de todas estas, mas, no entanto, recaindo com isso sempre no mesmo tipo de fracasso e decepção.
Um processo psicoterápico tem a função de auxiliar alguém a encontrar o próprio Rosto. Não é a única via de acesso ao seu verdadeiro Rosto. A vida, em si mesma, nos convida incessantemente a acolhermos a verdade sobre nos mesmos.
A psicoterapia, no entanto, pode e deve ser um espaço privilegiado em relação aos espaços sociais habituais. Neste sentido, ela tende a facilitar esse processo de descobrimento de si mesmo. Isso porque o terapeuta, a partir de quem verdadeiramente ele é, compreende o valor que reside na singularidade de seu paciente e o aceita.
Podendo, então, o paciente mostrar-se ao terapeuta em sua verdade sem o receio de ser julgado e condenado por isso, mas, ao contrário, percebendo que sua maior riqueza enquanto pessoa encontra-se justamente em tudo aquilo que apreendeu a considerar errado, começa ele, o paciente, a experimentar ser ele mesmo em terapia. Tal experiência, em sentir-se autorizado a ser si mesmo, tende a expandir-se para fora dos limites da própria terapia e estender-se aos demais âmbitos da vida desta pessoa.