Eduardo Beznos

Formado pela Universidade Mackenzie, realiza Psicoterapia e Acompanhamento Terapêutico (AT) para Adolescentes e Adultos em Abordagem Existencial Fenomenológica.


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terça-feira, 2 de agosto de 2011

O Jardim Japonês

A impermanência é uma lei da natureza. Quando não a aceitamos somos imediatamente punidos, se a acolhemos somos imediatamente recompensados.


Se algum dia tiverem a oportunidade de observar um daqueles jardins japoneses poderão perceber que nestes, artefato humano e natureza se conjugam, se harmonizam. A técnica - fazer próprio do homem - vai ao encontro da natureza, de modo a lhe favorecer em seus ciclos de surgimento, permanência e morte (novo surgimento, permanência e morte...).
A história ocidental, por outro lado, teve a técnica como principal instrumento de litígio contra a natureza. Os ciclos naturais de surgimento, permanência e morte, tomados como adversidades de um destino humano cruel e terrível, fizeram da história ocidental uma verdadeira epopéia do homem contra a natureza na expectativa de superá-la, isto é, superar a própria condição temporal: a impermanência.
Se natureza é compreendida como inimiga a ser domada e superada, o próprio homem esforça-se por dela se destacar e se antagoniza de tudo aquilo que nele mesmo é expressão não controlável. Assim preconiza, este homem, suas ações intencionais calculáveis, procurando promover a cultura do controle. Desta forma, este mesmo homem esquece que pouco de si mesmo é sujeito a seu controle, pois a maior parte do que o constitui não depende de sua ação voluntária (coração, intestinos, células, sistema nervoso – a maior parte – assim como a "mente"* da psicologia, estômago, glândulas e etc).
Deste litígio do homem contra a natureza, sobretudo sua própria natureza, surge, então, a doença psíquica. Ela é expressão, no âmbito pessoal*, de um modo de relação desarmoniozo de cada pessoa com sua própria natureza, onde esta última encontra-se interditada.
O Jardim Japonês é símbolo de cura para o homem. É a imagem daquele que se reconcilia com sua própria natureza impermanente, permitindo-se lugar para ser em constante transformação.








*Apesar da palavra mente (de cunho metafísico) ter sido usada para facilitar a comunicação com os leitores não familiarizados com a discussão pós-metafisica, a opção pelas aspas, além dessa nota explicativa, procura lembrar que rigorosamente falando, em termos de um pensamento originário, os eventos do mundo, com os quais tenho que me haver, possuem o mesmo sentido de intimidade que tudo àquilo que aprendi a chamar de Eu. 


*No âmbito cultural é a extensão desta interdição para a relação entre as demais pessoas.  Num registro ontológico, entretanto, a dualidade Eu - Outro, cede lugar à relação Ser - Ente.